O Regresso de Saturno
Aos 29-30 anos, o retorno (regresso) de Saturno é freqüentemente abordado com grande cuidado por aqueles que sabem alguma coisa de astrologia e lembrado por aqueles que já o passaram com grande alívio por ter terminado. O momento em si, tão catártico como costuma ser, não é mais do que a culminação de um ciclo que abrange a vida toda até aquele momento. O que é experimentado no regresso de Saturno não é um acontecimento isolado, mas antes o resultado de um processo evolutivo de 30 anos.
De modo a compreendermos completamente o regresso de Saturno então será de grande ajuda explorá-lo como um ritual cíclico de passagem, com referência a todo o ciclo de que Saturno faz parte.
O regresso de Saturno em si marca a vinda de uma idade astrológica. Apesar da sociedade reconhecer a idade legal adulta, em alguns casos aos 18 anos e em outros aos 21, não é verdade até ao regresso de Saturno que um indivíduo esteja fisicamente preparado para deixar a matriz familiar e embarcar num caminho que seja verdadeiramente o seu. Claro que muitas pessoas deixam as suas casas muito antes desta conjuntura, mas para muitos de nós as tentativas de nos definirmos e criarmos uma vida de trabalho no pré-regresso de Saturno são influenciadas por ligações a valores familiares, a padrões de condicionamento e expectativas que nos foram colocadas pelos nossos pais e pelo ambiente socio-cultural do Mundo em que crescemos. Aceitarmos ou rejeitarmos esses valores não faz nenhuma diferença, em nenhum dos casos, nós avaliamo-nos em relação a eles.
Após o regresso de Saturno cada um de nós é desafiado a tomar responsabilidade pela seu próprio caminho evolutivo e começar a dar expressão a voz única que daí advém. Até ao regresso de Saturno fazemos ou não aquilo que é esperado de nós, mas depois disso começamos a fazer ou não aquilo para o qual nascemos. É a mudança no foco da nossa responsabilidade, e não apenas votar ou comprar bebidas, que constitui a maturidade adulta na perspectiva astrológica.
As decisão tomadas durante o regresso de Saturno foram a base do rito de passagem.
E porque o regresso de Saturno faz parte de um cíclico ritual de passagem, a nossa preparação para a transição marcada pelo regresso de Saturno faz-se em fases. Estas fases podem ser vistas muito resumidamente e diferenciadas nos pontos cardinais do ciclo. Na quadratura crescente (7-8 anos) os pontos fundamentais que surgirão durante o regresso de Saturno começam a ganhar forma. Neste período a criança começa a reclamar a sua nascente individualidade e a testar o que a cerca na expressão da sua individualidade. A quadratura geralmente apresenta um ponto de crise no meio desta assertividade e avaliação, com os pais (e/ou a sociedade) a responderem colocando limites. Por isto muitas das crianças nesta idade ainda são demasiado dependentes quanto à aprovação e aceitação dos seus pais. Eles experimentam um ponto de ambivalência na sua tarefa para a individualidade. Interrogam-se em saber até que ponto é seguro forçar os limites que lhes foram impostos, e até que ponto devem conformar-se com a expectativas exteriores, de modo a obterem o amor e a aprovação que necessitam?
Na oposição de Saturno (idade 14-15), uma crise relacionada com o começo da puberdade é inevitavelmente experimentada. As mudanças hormonais e sociais associadas à puberdade são desencadeadas pelo sextil crescente de Urano em trânsito ao Urano Natal, o que acontece por volta do mesmo período. Alimentada por transformações biológicas, a individualidade é forçada a "partir a casca do ovo" da limitação parental e social, e a rebelião torna-se inevitável.
Ao mesmo tempo, e sobre a pressão de Saturno, as decisões antes tomadas na quadratura crescente ganham um foco mais específico durante a oposição. Por baixo da rebelião do adolescente pode ser muitas vezes visto o nascer do adulto, que começa a deixar cair a pele de criança, e ainda que mantenha as necessidades de aprovação e aceitação da criança. Muita desta aprovação surge agora na perspectiva do grupo do adolescente, com os valores parentais também interiorizados. O dilema de crescimento apresentado na oposição de Saturno toma frequentemente a forma de um conflito interno entre a individualidade emergente e as várias expectativas impostas pelos seus iguais, pelos pais e pelos valores parentais interiorizados.
Enquanto o sextil de Urano costumar dar um impulso ao surgimento da individualidade, lidando com sucesso com o simultâneo, a oposição de Saturno requer uma integração de princípios de base, capazes de ancorar a individualidade em solo firme. Se esta difícil transição astrológica pudesse ser comparada a guiarmos um carro, então a tarefa seria não só aprender a acelerar, mas também a trabalhar os freios. É na verdade aprender a coordenar o acelerador com o pedal de freio, neste desafio dual do sextil de Urano e da oposição de Saturno.
Entre a oposição e a quadratura minguante as consequências das decisões tomadas na quadratura crescente são consolidadas e a oposição torna-se aparente. A extensão dessas decisões reflectem a habilidade de Saturno em trazer a verdade a um foco; os anos entre os 14 e os 23 são uma atitude de descoberta do seu caminho da individualidade.
Pela extensão dessas decisões, marcadas pela repressão saturnina na essência de cada um, será um período de tumultuosa mudança, para que na quadratura decrescente o indivíduo possa regressar ao processo urgente de sair do ovo familiar.
A quadratura minguante (22-23 anos) em si trará novas oportunidades para maiores descobertas e expressão da individualidade ou trará o caos. A partir do momento em que a individualidade emergente esteja integrada com sucesso com os princípios base da infância, o caminho pessoal acelerará neste período.
O esforço daqui para a frente está para além da relação família e padrões sociais de condicionamento e do encarar da individualidade, mas em interiorizar um certo nível saturnino de auto-disciplina, compromisso e capacidade de persistir nos objetivos importantes. Se não o tiver feito, a quadratura minguante mostrará a necessidade destas virtudes saturninas. A crise que é apresentada na quadratura minguante é em última análise acerca do assumir de responsabilidades, de se criar a estrutura e suporte necessário ao crescimento pessoal de cada um.
É nesta dança de equilíbrio, entre o emergir da individualidade e a responsabilidade que surge com um aumento de liberdade de expressão, onde o regresso de Saturno mostra o seu significado. O que vemos no regresso de Saturno é apenas um instantâneo das consequências, mostrando-nos como lidámos com as tarefas associadas a todo o ciclo. Mas tal como a nota final pode não mostrar o melhor ou o pior do aluno que a recebe, o mesmo acontece com o regresso de Saturno, que pode não mostrar os assuntos que ainda estão por chegar ao destinatário enquanto caminha para o segundo ciclo de Saturno. Para isso temos que olhar para trás e ganhar a perspectiva que apenas é possível com o estudo de todo o ciclo.
Observando, no entanto, todo o ciclo, através da história do movimento de Saturno, vemos que esse momento no tempo (o regresso) não é mais do que o culminar de um ritual cíclico de passagem que começou no nascimento. Ao desenhar todo o ciclo, o processo profundo de estabelecer uma base na qual pudesse exercer criativamente a individualidade e participação na vida nos próprios termos revelou-se ser a essência deste ritual de passagem.
Como astrólogos podemos virar a nossa atenção do momento para todo o ciclo do qual o momento faz parte, e acredito que muito mais nos pode ser revelado. O que pode ser não tão aparente se olharmos para acontecimentos como o regresso de Saturno como um acontecimento solitário no tempo cronológico, pode então tornar-se maduro, com significado, se o evento for observado com as lentes dos ciclos astrológicos. É através do tracejar do movimento da vida em pontos chave de um ciclo inteiro, que nos conduz a um marco, que o mais profundo e pessoal entendimento desse marco é entendido.